Lispector


Ai está ele, o mar, a mais ininteligível das existências não humanas. E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos. Como ser humano fez um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos. Ela e o mar.

Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões.

Ela olha o mar, é o que pode fazer. Ele só lhe é delimitado pela linha no horizonte, isto é, pela sua incapacidade humana de ver a curvatura da terra.

(Clarice Lispector - Felicidade Clandestina)



...


Foto: Ricardo Oliveira

No jardim onde moro
não há frio nem o tempo passa
lá, todas as flores por ti semeadas,
são orquídeas, agora, desabrochadas.

No jardim onde moro,
ao som do canto dos rouxinóis,
cercada por girassóis, profano meu paraíso
como uma abelha, mordiscando tua epiderme
I
N
T
E
I
R
A
com o toque macio das gueixas

No jardim onde moro, transgrido o que não deveria
E me permito dançar ao som da tua eterna melodia
Convido para esse baile todas as tentações
E alcanço assim, meu canto predileto...

... esse deus de versos de seda e vastidão de mãos.

(Karla Julia)



Se quiser conhecer seu jardim:
Campo de Orquídeas

Canção de mim mesmo

Foto: Desnuda - Pereira Lopes
Eu celebro a mim mesmo,
E o que eu assumo você vai assumir,
Pois cada átomo que pertence a mim pertence a você.

Vadio e convido minha alma,
Me deito e vadio à vontade... observando uma lâmina de grama do verão.
(...)

A fumaça de minha própria respiração,
Ecos, ondulações, zunzuns... raiz de amaranto, fio de seda, forquilha e videira,
Minha respiração minha inspiração... a batida do meu coração... passagem de sangue e ar por meus pulmões,
O aroma das folhas verdes e das folhas secas, da praia e das rochas marinhas de cores escuras, e do feno da tulha,
O som das palavras bafejadas por minha voz... palavras disparadas nos redemoinhos do vento,
Uns beijos de leve... alguns agarros... o afago dos braços
Jogo de luz e sombra nas árvores enquanto oscilam seus galhos sutis,
Delícia de estar só ou no agito das ruas, ou pelos campos e encontas de colina,
Sensação de bem-estar... apito do meio-dia... a canção de mim mesmo se erguendo da cama e cruzando com o sol.
(...)

Sou o poeta do corpo,
E sou o poeta da alma.

Os prazeres do céu estão comigo, os pesares do inferno estão comigo,
Aqueles, enxerto e faço crescer em mim mesmo... estes, traduzo numa nova língua.
(...)

(Walt Whitman)


O poema completo é bem grande, e muito lindo!
Quem quiser ler inteiro, pode acessar:
http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet183.htm

Sentimental

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Eu compartilho olhares!


Ponho-me a escrever teu nome
Com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
E debruçados na mesa todos contemplam
Esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,
Uma letra somente
Para acabar teu nome!

- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
"Neste país é proibido sonhar."

(Carlos Drummond de Andrade)

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É simplesmente mais do mesmo... sejam novamente bem-vindos!