Seus olhos sempre puros
Dias de lentidão, dias de chuva,
dias de espelhos quebrados e agulhas perdidas,
dias de pálpebras fechadas ao horizonte dos mares,
de horas em tudo semelhantes, dias de cativeiro.
Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas
e as flores, meu espírito é desnudo feito o amor,
a aurora que ele esquece o faz baixar a cabeça
e contemplar seu próprio corpo obediente e vão.
Vi, no entanto, os olhos mais belos do mundo,
deuses de prata que tinham safiras nas mãos,
deuses verdadeiros, pássaros na terra
e na água, vi-os.
Suas asas são as minhas, nada mais existe
senão o seu voo a sacudir minha miséria.
Seu voo de estrela e luz
seu voo de terra, seu voo de pedra
sobre as vagas de suas asas.
Meu pensamento sustido pela vida e pela morte.
(Paulo Éluard - tradução de José Paulo Paes)
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