Paul Éluard

Seus olhos sempre puros

Dias de lentidão, dias de chuva,
dias de espelhos quebrados e agulhas perdidas,
dias de pálpebras fechadas ao horizonte dos mares,
de horas em tudo semelhantes, dias de cativeiro.

Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas
e as flores, meu espírito é desnudo feito o amor,
a aurora que ele esquece o faz baixar a cabeça
e contemplar seu próprio corpo obediente e vão.

Vi, no entanto, os olhos mais belos do mundo,
deuses de prata que tinham safiras nas mãos,
deuses verdadeiros, pássaros na terra
e na água, vi-os.

Suas asas são as minhas, nada mais existe
senão o seu voo a sacudir minha miséria.
Seu voo de estrela e luz
seu voo de terra, seu voo de pedra
sobre as vagas de suas asas.

Meu pensamento sustido pela vida e pela morte.

(Paulo Éluard - tradução de José Paulo Paes)

0 manifestações libertárias:

Postar um comentário

Manifestações libertárias