Vibrações do tempo


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A gaivota determinada mergulha na água
Verde. Há um tempo para o peixe
e um tempo para o pássaro
e dentro e fora do homem
um tempo eterno de solidão.
Muitas vezes, fixando o meu olhar no morto,
vi espaços claros, bosques, igapós,
o sumidouro de um tempo subterrâneo
(patético, mesmo às almas menos presentes)
vi, como se vê um avião,
cidades conjugadas pelo sopro do homem,
a estrada amarela, o rio barrento e torturado,
tudo tempos de homem, vibrações de tempo, vertigens.

Senti o hálito do tempo dando melancolia
aos que envelhecem no escuro das boites,
vi máscaras tendidas para o corpo e para o tempo.
Com uma tensão de nervos feridos
e corações espedaçados.
Se acordamos, e ainda não é madrugada,
sentimos o invisível fender do silêncio,
um tempo que se  ergue ríspido na escuridão.
Cascos leves de cavalos cruzam a aurora.
O tempo goteja
como o sangue.
Os cães discursam nos quintais, e o vento,
grande cão infeliz,
investe contra a sombra.

O tempo é audível; também se pode ouvir a eternidade.

(Paulo Mendes Campos)

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