Quatro baladas amarelas

IV

Sobre o céu
das margaridas ando.

Nesta tarde imagino
que sou santo.
Puseram-me a lua
nas mãos.
Eu a pus outra vez
no espaço
e o Senhor me premiou
com a rosa e o halo.

Sobre o céu
das margaridas ando.

E agora vou
por este campo
a livrar as meninas
dos galãs maus
e dar moedas de ouro
a todos os rapazes.

Sobre o céu
das margaridas ando.

(Frederico Garcia Lorca - Trecho IV do poema!)

Todo o encanto das flores...



Canção do amor imprevisto


Foto: José Ferreira


Eu sou um homem fechado.

O mundo me tornou egoísta e mau.

E minha poesia é um vício triste,

desesperado e solitário

que eu faço tudo por abafar.

Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,

com teu passo leve,

com esses teus cabelos...

E o homem taciturno ficou imóvel,

sem compreender nada,

numa alegria atônita...

A súbita alegria de um espantalho inútil

aonde viessem pousar os passarinhos!


(Mário Quintana)


Seus lindos poemas sempre merecem um espaço!!

Segunda-feira


Vinte e um. Segunda-feira

Vinte e um. Segunda-feira. É noite.
No escuro uns contornos de cidade.
Algum vagabundo escreveu
que na terra pode haver amor.

E por tédio ou preguiça,
todos acreditaram e assim vivem:
esperam encontros, temem adeus
e cantam canções de amor.

Mas a outros revela-se o enigma,
e o silêncio repousará sobre eles...
Descobri isto por acaso
e desde então sinto-me mal.

(Anna Akhmátova - poetisa russa. Tradução de Manuel de Seabra)

Tédio ou preguiça?
Tudo depende se está apaixonado ou não...



Verbo SER


Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho que mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

(Carlos Drummond de Andrade)

O verbo mais bonito, completo e enigmático...
na minha opinião!!!