Belo Belo

Imagem: Tim Burton's Garden - Ana Salão

Belo belo belo
tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo - que foi? passou - de tantas estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,
e eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
não quero ser amado.
Não quero combater,
não quero ser soldado.

- Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.
(Manuel Bandeira)


O que mais posso dizer: BELO, BELO, BELO!!!!
PS: A foto da Ana é uma das idéias mais originais que já encontrei na fotografia, talvez por ser fã de Tim Burton também! rs

Quatro baladas amarelas

IV

Sobre o céu
das margaridas ando.

Nesta tarde imagino
que sou santo.
Puseram-me a lua
nas mãos.
Eu a pus outra vez
no espaço
e o Senhor me premiou
com a rosa e o halo.

Sobre o céu
das margaridas ando.

E agora vou
por este campo
a livrar as meninas
dos galãs maus
e dar moedas de ouro
a todos os rapazes.

Sobre o céu
das margaridas ando.

(Frederico Garcia Lorca - Trecho IV do poema!)

Todo o encanto das flores...



Canção do amor imprevisto


Foto: José Ferreira


Eu sou um homem fechado.

O mundo me tornou egoísta e mau.

E minha poesia é um vício triste,

desesperado e solitário

que eu faço tudo por abafar.

Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,

com teu passo leve,

com esses teus cabelos...

E o homem taciturno ficou imóvel,

sem compreender nada,

numa alegria atônita...

A súbita alegria de um espantalho inútil

aonde viessem pousar os passarinhos!


(Mário Quintana)


Seus lindos poemas sempre merecem um espaço!!

Segunda-feira


Vinte e um. Segunda-feira

Vinte e um. Segunda-feira. É noite.
No escuro uns contornos de cidade.
Algum vagabundo escreveu
que na terra pode haver amor.

E por tédio ou preguiça,
todos acreditaram e assim vivem:
esperam encontros, temem adeus
e cantam canções de amor.

Mas a outros revela-se o enigma,
e o silêncio repousará sobre eles...
Descobri isto por acaso
e desde então sinto-me mal.

(Anna Akhmátova - poetisa russa. Tradução de Manuel de Seabra)

Tédio ou preguiça?
Tudo depende se está apaixonado ou não...



Verbo SER


Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho que mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

(Carlos Drummond de Andrade)

O verbo mais bonito, completo e enigmático...
na minha opinião!!!


Canção da garoa



Em cima do telhado

Pirulin lulin lulin,

um anjo, todo molhado,

soluça no seu flautim

o relógio vai bater:

as molas rangem sem fim.

O retrato na parede

fica olhando para mim.

E chove sem saber porquê

e tudo foi sempre assim!

Parece que vou sofrer:

Pirulin lulin lulin...


(Mário Quintana)


E comigo também, parece que foi sempre assim... será que vou sofrer?


Versos Perdidos


Gosto de sentir o tempo,
seja ele remodelando os traços do meu rosto,
me ensinando novas coisas,
ou iluminando as minhas decepções.
Gosto da dor que antecede o raiar do dia,
gosto do sofrimento que toma conta de mim ao ouvir certas canções,
fazendo com que as lágrimas mais que uma vez,
cheguem aos meus olhos ou
trazendo a inspiração que preciso para escrever um novo texto.
Gosto de remoer os sentimentos que se apagam com o passar das horas,
sejam eles bons
ou
ruins,
me trazendo lembranças em múltiplas formas.
Não me importo...
Acredito que os anos nos fazem memórias,
me fazendo crer que o tempo é apenas uma divisão
entre
a
velocidade
e o
espaço.

(Fernanda Alves)


"Tempo: coisa que acaba de deixar o querido leitor um pouco mais velho ao chegar ao fim desta linha." (Mário Quintana)


Despedida do blog "Versos Perdidos", da amiga Fernanda!