Poesia em língua árabe



Espelho do corpo do outono

Você já viu a mulher
como carrega o corpo do outono?
Primeiro ela mistura o rosto e a calçada
depois tece um vestido com os fios 
da chuva
as pessoas
na cinza da rua
são brasa apagada.

(Adonis)

Esta é a primeira seleta de poemas de Adonis publicada no Brasil, traduzida diretamente do original árabe. O poeta esteve recentemente na FLIP apresentando seus poemas.

Tudo que vejo


Talvez porque faço verso, falo, escrevo
digo poemas, letras de sabão.
Todos já fizeram, muitos por mérito
Manoel, Ferreira, Bandeira, Drumão.

E eis que também sou nordestino, sou
coisa dessa pátria, do sol, do sertão.
Não porque sou poeta, nem porque presto!
Só me vejo, infesto, e tento, por que não?

Essa voz que fala dentro do certo, apetrecho
sela, chapéu de coro, cabresto e gibão
fazendo verso para passar o tempo
caminho, cavalo, vento e morão.

É o clima do mundo que vejo
também já dancei o forró na noite de São João.
Já fui moço, menino, menino-homem
já tive moça, donzela, menina de família na mão.

E me rendo ao sertanejo de cara riscada
sol, terno, enxada, peleja, labuta e cachaça
me rendo ao sertanejo dando risada
lhe devo tudo povo, meu corpo, curvo em graça.

Meu sertão.

Viriato Sampaio
O Viriato escreve no Portão do Descanso


Foto: google imagens