Querer

 Arte: Ini Neumann

 Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
e a medida de meu amor viageiro
é não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e a fogo.

(Pablo Neruda)

Ouro Preto


 Ar d'Ouro Preto
(fragmento)

há muito para subir em Ouro Preto
mesmo que o tempo tarde
andar devagar, bem devagar
escalar ruas passo a passo
olhar para o chão
enquanto as montanhas
impassíveis
disputam nosso olhar
é no passar que se põe o ardor
acima e abaixo
aos pés, ao céu
rochas para caminhar
mar de rochas
montanhas de pedra

há muito para descer em Ouro Preto
o frio das alturas
impregnado desse spleen
que não se explica
e a cada passo
uma lição de paciência
e a cada olhar
uma lição de silêncio
e a cada casa, porta, beiral
uma lição de história
que aqui perdura
dura, dura rocha

(Alice Ruiz)

As imagens e o poema foram retirados do site  Cronópios e fazem parte do projeto do poeta Guilherme Mansur, Chuva de Poesia!